quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Franklin Ferreira – O Cristão e a Cultura

ferreira-cultura

 

Uma definição de cultura

Antes de falarmos da relação do cristão com a cultura, é necessário definirmos o que é cultura:
  • Em sentido amplo, refere-se ao cultivo de hábitos, interesses, língua e vida artística de uma nação: histórias, símbolos, estruturas de poder, estruturas organizacionais, sistemas de controle, rituais e rotinas.
  • Tudo o que caracteriza uma realidade social de um povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade: valores, atitudes, crenças e costumes.
Não raro o cristão se torna uma subcultura dentro de uma nação. Ele tem seus valores, atitudes, crenças e costumes. Mas daí, surgem as perguntas: O cristão pode participar das festas nacionais? O cristão pode beber? Como o cristão lida com arte, cinema, etc.? O cristão pode ser um diretor, ator, etc.? O cristão pode ouvir música do mundo? Como o cristão lida com economia, política, filosofia? O cristão deve impor sua cultura quando sai em missões? O que pode ser tolerado? O que deve mudar?

 

Modelos de como os cristãos lidaram com a cultura ao longo da história

Para falar sobre o cristão e a cultura, precisamos lembrar que a igreja não nasceu em nossa geração. Temos que ser humildes e olharmos para a história da igreja para ver como os cristãos do passado lidaram com a cultura.
H. Richard Niebuhr (1894-1962), apresentou em seu livro Cristo e cultura (download gratuito) cinco categorias de classificação do relacionamento entre o cristão e a cultura, fornecendo, assim, ferramentas para descrever a forma que os cristãos encaram questões sociais, éticas, políticas e econômicas.

 

1. O cristão contra a cultura

Os que seguem esta corrente enfatizam que, diante da natureza decaída da criação, é necessário que se criem estruturas alternativas, e que estas sigam mais de perto o chamado radical do evangelho. Esta posição foi afirmada no Didaquê, na Primeira Epístola de Clemente, e nos escritos de Tertuliano (c.160–c.225) e dos anabatistas do século xvi, como Michael Sattler (c.1490–1527).
Resumidamente, a cultura é caída, má e demoníaca; rejeite tudo. Exemplos:
“A filosofia é a matéria básica da sabedoria mundana, intérprete temerária da natureza e da ordem de Deus. De fato, é a filosofia que equipa as heresias… Ó miserável Aristóteles! Que lhes proporcionaste a dialética, esse artífice hábil para construir e destruir, esse versátil camaleão que se disfarça nas sentenças, se faz violento nas conjecturas, duro nos argumentos, que fomenta contendas, molesta a si mesmo, sempre recolocando problemas antes mesmo de nada resolver. Por ela, proliferam essas intermináveis fábulas e genealogias, essas questões estéreis, esses discursos que se alastram, qual caranguejos, e contra os quais o Apóstolo nos adverte na sua carta aos Colossenses: ‘Cuidado que ninguém vos venha a enredar com suas sutilezas vazias, acordadas às tradições humanas, mas contrárias à providência do Espírito Santo’. Este foi o mal de Atenas… Ora que há de comum entre Atenas e Jerusalém, entre a Academia e a Igreja, entre os hereges e os cristãos? Nossa formação nos vem do pórtico de Salomão, ali nos ensinou que o Senhor deve ser buscado na simplicidade do coração. Reflitam, pois, os que andam propalando seu cristianismo estóico ou platônico. Que novidade mais precisamos depois de Cristo? [...] Que pesquisa necessitamos mais depois do Evangelho? Possuidores da fé, nada mais esperamos de credos ulteriores. Pois a primeira coisa que cremos é que para a fé, não existe  objeto ulterior.”  (Tertuliano, De praescr. haeret., VII)
 “Quarto, unimos nossas forças no que diz respeito à separação do mal. Devemos nos afastar do mal e da perversidade que o diabo semeou no mundo, para não termos comunhão com isso e não nos perdermos na confusão dessas abominações. Aliás, todos que não aceitaram a fé e não se uniram a Deus para fazer a sua vontade são uma grande abominação aos olhos de Deus. Deles não poderão acrescentar ou surgir nada mais do que coisas abomináveis. Não existe nada mais no mundo e em toda a criação do que o bem e o mal, crentes e incrédulos, trevas e luz, os que estão no mundo e fora do mundo, os templos de Deus e dos ídolos, Cristo e Belial, e nenhum deles poderá ter comunhão um com o outro. Para nós, pois, é obvio o imperativo do Senhor, pelo qual nos ordena que nos afastemos e nos mantenhamos longe dos maus. Assim, ele será nosso Deus e nós seremos seus filhos e filhas. Além disso, ele nos exorta a abandonar a Babilônia e o paraíso terreno egípcio, para não passar pelos sofrimentos e dores que o Senhor enviará sobre eles. (…) Devemos nos afastar de tudo isso e não participar com eles. Porque tudo isso não passa de abominações, que nos tornam odiosos diante do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos libertou da escravidão da nossa natureza pecaminosa e nos tornou aptos para o serviço de Deus, por meio do Espírito que nos ortogou.” (Confissão de Schleitheim, IV)

 

2. O cristão da cultura

Os ensinos do evangelho têm íntima relação com as estruturas culturais, num processo de acomodação a esta. Ou seja, toda e qualquer cultura é incorporada no cristianismo.
Apesar das objeções que são lançadas a esta posição, ela tem sido influente na história da igreja. Os ensinos de gnósticos do século III, Abelardo de Paris (1079–1142) e dos teólogos liberais do século XIX refletem esta posição.. A igreja evangélica na Alemanha, por influência deste entendimento, trocou seu nome para Igreja do Reich e seus pregadores juraram obediência a Hitler.
O fundamentalismo americano acabou espelhando esta posição, afirmando os valores básicos da cultura dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, se por um lado rejeitamos toda cultura local (o cristão contra a cultura), por outro acabamos abraçando a cultura americana (o cristão da cultura), como se ela fosse uma cultura cristã e achamos que uma cultura é intrinsicamente superior a outra.

 

3. O cristão acima da cultura

Este é o conceito católico, influenciado por Clemente de Alexandria (c.150–c.215) e Tomás de Aquino (1225–1274), que busca uma unidade entre o cristão e a cultura, onde toda a sociedade aparece hierarquizada. Na Idade Média o ensino eclesiástico alcançou quase todos os aspectos da sociedade: suas práticas religiosas formaram o calendário; seus rituais marcaram momentos importantes (batismo, confirmação, casamento, ordenação) e seus ensinamentos sustentavam crenças sobre moralidade, significado da vida e a vida após a morte. A igreja e sua mensagem são institucionalizadas e o que deveria ser condicionado culturalmente é absolutizado. Neste terceiro modelo, o que é levado não é o evangelho, mas uma cultura.

 

4. O cristão e a cultura em paradoxo

Posição comumente associada a Martinho Lutero (1483-1546) e Søren Kierkegaard (1813-1855). Esta posição mantém o entendimento bíblico da queda e da miséria do pecado, e o chamado para se lidar com a cultura. A relação do cristão com a cultura é marcada por uma tensão dinâmica entre a ira e a misericórdia.
Lutero enfatizou este tema com sua doutrina dos “dois reinos”: a mão esquerda, mundana, segura a espada do poder no mundo, enquanto a mão direita, celeste, segura a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Não se pode tentar coagir a fé, nem se pode tentar acomodar a fé aos modos seculares de pensamento.
Um exemplo: espancamento feminino. A mulher deve processar o marido? Nesta visão paradoxal, como cristã, ela não deveria (pois o crente não leva outro ao tribunal secular), mas como cidadã, sim. Então, a mulher vive um conflito paradoxal.

 

5. O cristão como agente transformador da cultura

A cultura deve ser levada cativa ao senhorio de Cristo. Sem desconsiderar a queda e o pecado, mas enfatizando que, no princípio, a criação era boa, os que estão nesse grupo enfatizam que um dos objetivos da redenção é transformar a cultura. Sendo assim, por mais iníquas que sejam certas instituições, elas não estão fora do alcance da soberania de Deus. Ou seja, mesmo sabendo da queda, o cristão não abandona a cultura (o cristão contra a cultura), mas busca redimi-la, levá-la aos pés de Cristo.
Agostinho (354-430), João Calvino (1509-1564), John Wesley (1703-1791) e Abraham Kuyper (1837-1920) são alguns dos que entenderam que os cristãos são agentes de transformação da cultura, posição que é exposta nesta obra de Niebuhr. Em Apocalipse, vemos que Deus redime tanto a pessoa, como a diversidade cultural.
Nesta posição, não há divisão entre o sagrado e o profano – essa é uma dicotomia católica (a divisão sagrado/profano afirma que na igreja fazemos atividades sagradas e, no mundo, atividades profanas; ou seja, rezar, ser padre é algo sagrado, mas construir um prédio e ser um engenheiro são coisas profanas). A divisão bíblica é entre o que é santo e está em pecado; e que está em pecado deve ser santificado.

 

Relatório de Willowbank

A afirmação de que o cristão é um agente transformador da cultura pode ser resumida na compreensão de que “uma vez que o homem é criado por Deus, parte de sua cultura será rica em beleza e bondade. Por causa da queda e do pecado do homem, toda a sua cultura [usos e costumes] está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca” (Pacto de Lausanne §10) — o evangelho nunca é hóspede da cultura, mas sempre seu juiz e redentor.
O Grupo de Teologia e Educação de Lausanne propôs um modelo hierárquico de ação sobre a entrada do evangelho na cultura (Relatório de Willowbank, 1978) que pode ser de auxílio em nosso trato com a cultura ao nosso redor.
Categoria de costumes
Como um missionário deve proceder em uma cultura diferente? O Relatório de Willowbank propõe uma relação quádrupla do cristão com a cultura:
  1. Alguns costumes não podem ser tolerados, como a idolatria, infanticídio, canibalismo, vingança, mutilação física, prostituição ritual, entre outros.
  2. Alguns costumes podem ser temporariamente tolerados [por uma geração], como a escravidão, o sistema de castas, o sistema tribal, a poligamia, entre outros.
  3. Há alguns costumes cujas objeções não são relevantes para o evangelho, como o costume de o homem e a mulher sentarem separados nos cultos, os costumes alimentares, vestimentas, hábitos de higiene pessoal, entre outros.
  4. Assuntos secundários (adiáforos) sobre os quais há controvérsias mas que pode-se ter liberdade de análise, como escatologia, governo da igreja, ceia e batismo
Exemplo do ponto 2: quando chefes tribais polígamos se convertiam, eles eram obrigados pelos missionários a abandonar todas suas esposas, que ou morriam de fome ou se prostituiam, podendo morrer apedrejadas. Vendo isso, os missionários acharam uma medida sábia não exigir desse chefe tribal o abandono da poligamia, mas exigir tal atitude da próxima geração de cristãos.
Aplicação do ponto 3: Se você é um novo pastor, não tente mudar a cultura da igreja, se ela se encaixa neste nível. Pregue o evangelho!
 “Não se distinguem os cristãos dos demais, nem pela região, nem pela língua, nem pelos costumes. (…) Seguem os costumes locais relativamente ao vestuário, à alimentação e ao restante estilo de viver, apresentando um estado de vida admirável (…). Enquanto cidadãos, de tudo participam, porém tudo suportam como estrangeiros. (…) Se a vida deles decorre na terra, a cidadania, contudo está nos céus. Obedecem as leis estabelecidas, todavia superam-nas pela vida. Amam a todos, e por todos são perseguidos (…) Para simplificar, o que é a alma no corpo são no mundo os cristãos”. (5-6) (Epístola a Diogneto)

Bibliografia Complementar

ferreira-cultura-livros
No final da palestra, Franklin Ferreira apresentou uma bibliografia sobre o assunto:
Recomendo a leitura destes artigos também:
Não sei se vocês lembram, mas já falamos, de forma simplificada, sobre o assunto aqui no VE: Os 3 Rs do Envolvimento do Cristão com a Cultura. Os 3R de Mark Driscoll (Rejeitar, Receber ou Redimir) encaixam-se bem nos quatro pontos apresentados pelo Relatório de Willowbank.
Por: Franklin Ferreira. Palestrado no dia 11/02/13, na 15ª Consciência Cristã (VINACC). Copyright © Franklin Ferreira.
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Participe do Shockwave - uma onda de oração pela Igreja Perseguida



Olá, pessoal!

Faltam apenas oito dias para o SHOCKWAVE 2013 e queremos convidá-lo para participar desta onda de oração pela Igreja Perseguida! O Shockwave é um evento internacional de oração, organizado pelo underground, que acontece sempre no primeiro final de semana de março. Neste ano, jovens do mundo todo se unirão como um só Corpo para orar pelos cristãos chineses. Oração que vai impactar o mundo!

Para participar basta organizar, entre os dias 1 e 3 de março, uma reunião, culto, vigília ou encontro de oração. Pode ser em sua igreja, casa, trabalho, faculdade, em um parque, na praia ou qualquer lugar que achar melhor. Você pode reunir milhares de pessoas ou apenas sua família. O importante é orar pelos cristãos chineses durante este final de semana!

Visite nosso site saiba mais sobre o Shockwave 2013 e faça o download de materiais de apoio para sua reunião, como uma peça de teatro, pedidos de oração, lista de prisioneiros chineses, notícias, ideias criativas de oração, vídeos, materiais de divulgação e muito mais!
SETUBAS!
Equipe underground Brasil

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Impacto de Carnaval 2013

Restaurados para Restaurar


Depois do Retiro Restauração acontecido nos dias 1,2 e 3 de fevereiro em que descemos a casa do oleiro para nas mãos dEle nos quebrar e por Ele sermos restaurados.

“Mas o vaso de barro que ele estava formando estragou-se em suas mãos; e ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade. Jeremias 18:4

Saímos de lá nos perguntando: e agora? Um vazo restaurado faz o que?

“Seu povo reconstruirá as velhas ruínas e restaurará os alicerces antigos; você será chamado reparador de muros, restaurador de ruas e moradias.Isaias 58:12

Essa é a resposta: Ele Reconstrói; Restaura; e Repara.

Foi o que fizemos nos dia 8 a 13 de fevereiro, final de semana seguinte.

Meditação da Palavra




Artes como estrategia de Evangelismo

Não faz sentido ser restaurado se não for para reconstruir, restaurar e reparar. É como aprender a ler e não ler. O Senhor nos chamou e nos restaurou, agora é nossa vez...

Pr Rodrygo Gonçalves 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

DIP - Domingo da Igreja Perseguida 2013 dia 26 de maio

Domingo da Igreja perseguida 

Os cristãos perseguidos contarão mais uma vez com o envolvimento da Igreja brasileira. Há 25 anos, a Portas Abertas patrocina o Domingo da Igreja Perseguida, mais conhecido como DIP. O evento reúne milhares de igrejas em todo o Brasil e até em outros países, em um único dia, para lembrar a realidade de cristãos que enfrentam a hostilidade e a opressão por conta de sua fé. Em 2012, mais de 5.500 igrejas no Brasil participaram do DIP, levantando um clamor para que a Igreja Perseguida permaneça firme. 

 Para que o DIP aconteça, é necessário realizar o cadastramento no site www.domingodaigrejaperseguida.org.br para ter acesso aos materiais que a organização disponibiliza para download. São ideias de peças de teatro, pregações, atividades infantis, campanhas de oração, testemunhos, campanhas de doação e arquivos de imagens e vídeos que relatam a vida de milhares de cristãos ao redor do mundo. Há muitas opções de atividades no site para que o DIP seja o mais eficiente possível na tarefa de conscientizar a Igreja brasileira. Ele é completo e traz muitas informações sobre o que é o evento, como participar, como doar, além de permitir interação por meio de comentários. 

 Além dos materiais disponíveis para donwload, quem se cadastrar receberá gratuitamente em sua residência um kit com um passo-a-passo, cartazes, teasers e crachá. 

 Tema: Mulheres 

 O DIP 2013 terá foco especial nas mulheres da Igreja Perseguida. Dependendo do país de origem, a mulher já é desprezada pela sociedade. Sendo cristã, esse desprezo aumenta e elas são consideradas "nada" para seus familiares e vizinhos. 

 Muitas dessas cristãs tiveram seus maridos presos e até mortos. Muitas ficam com a responsabilidade de continuar o trabalho da igreja na ausência dos maridos. Mas, além de todo sofrimento, elas continuam tendo suas tarefas como mães e precisam prover as necessidades dos filhos. 

 Participe! 

 Cremos que quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele. Realizar o DIP significa lembrar e agir em favor dessa parte do Corpo de Cristo, em países como Coreia do Norte, Irã, Afeganistão, Eritreia, Nigéria, Colômbia, entre outros. Contamos com você! 

 Avise seu pastor e programe-se para realizar o DIP em sua igreja. Não desista! Continue agindo em favor de seus irmãos: torne-se um abençoador para aqueles que precisam permanecer firmes na linha de frente! 

 Em caso de dúvidas, envie um email para dip@portasabertas.org.br ou ligue para (11) 2348 3330.

Portas Abertas Brasil